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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Tempo

A mim que desde a infância venho vindo,
como se o meu destino,
fosse o exato destino de uma estrela,
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.

Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.

Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem,
amaria chamar-se Eliud Jonathan.

Neste exato momento do dia vinte de julho,
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.

Quarenta anos: não quero faca nem queijo.
Quero a fome.

(Adélia Prado)