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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

'COMO OS PASSIVOS AFOGADOS'


esperando o tempo da areia
pelo mar de inúmeros lados
bóio tão venturosa e alheia
que,para mim, a noite e o dia
têm o mesmo sol sem ocaso,
e o que eu queria e não queria
aceitaram seu justo prazo

E nem me encontra quem me espera
nem o que esperei foi havido,
tanto me ausento desta esfera.

Ó liberdade sem tormento!
(Ó fitas soltas, ó cortinas
Levadas por um amplo vento
além de campos e colinas!...)
Vencendo sucessivos planos,
abrindo mundo encobertos
chegando ao reinos sobre-humanos
onde há jardim para os desertos!

A alma do sonho fez-se ouvido
tão vertiginoso e profundo
que capta o recado perdido
dos ocultos donos do mundo.

Cecília Meireles
In: Flor de poema – Canções. Coleção Poiesis. Ed. Nova Fronteira 6ª. ed. p.253