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quarta-feira, 10 de março de 2010

O sol negro e o sol branco

Pedras sombras árvores.
Palavras consciência negra do sol.
Consciência da contínua explosão.
Consciência do infinitamente frágil e mortal.
Consciência da consciência efémera.

Sabor fúnebre da iminência.
Vácuo na cabeça e a mão que escreve
lenta, consciente? Estas palavras
que não são do desejo nem de combate
nem são ainda do completo abandono
do desencontro mortal.

Podem dizer-me que estas pedras não são pedras
que acumulo sombras
e que não respiro as árvores
que ignoro tudo e escrevo nada.

Vivo ainda destas palavras
as mais pobres que encontro
nenhuma delas tão pobre como eu
nenhuma delas tão nua que te atinja a ti a nós.

Disse sol outrora como se dissesse o sol
e era a morte viva que designava
era o negro esplendor do nada
era o vazio entre os espaços
de cada ser e cada coisa.
Mas era a vontade de um combate.

Era o desejo de alcançar a força viva
de lhe criar um espaço para mim e para ti
para viver ao sol desperto e nu para viver no ser aberto
como um animal como uma força fraterna um corpo livre.

Cada palavra como uma pedra sobre a pedra exacta e verdadeira.
E entre sombras e ramos entrar na clareira
do ser onde a luz é a do encontro e do repouso
a perfeição tranquila e vegetal
a unidade íntima
o amor de estar.

(António Ramos Rosa)

Um comentário:

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Lindissimo poema, gosto muito da poesia de Ramos Rosa.